Hoje fui dar uma passada na feirinha da Liberdade, com o propósito latente de comer tempura e raspadinha oriental. Eis que compro o tempura e saio andando pelas barracas. Nesse tempo de andança ouvi coisas muito bizarras como: "isso só funciona aos finais de semana", o vendedor referindo-se a fontes de água bonitinhas; e "temos que julgar, condenar e aplicar a pena", uma mulher gritando para o que pareciam ser suas filhas.
Consumido o meu tempura, dirigi-me para a barraca da raspadinha. Pedi uma de uva com morango e enquanto a velhinha a fazia, reparei que um bebê a dois metros de mim ficava me encarando. Ela era branquinha, tão meiga...e virava o rosto para ficar me olhando. Coisas assim me tocam a valer.
Enfim peguei minha raspadinha e comecei a caminhar de volta pra casa, que aliás fica na mesma rua. Uma constante que eu gostaria de apresentar é o fato de eu encontrar, em pessoas por mim desconhecidas, um verdadeiro amor por "gente". Aquela sensação de "eu te acolho"..outra coisa que me toca a valer.
Mas o ápice do passeio, e o propósito desse tópico, é o que vou narrar agora: eu tinha acabado de atravessar a rua e vinha em minha direção na esquina um menininho de no máximo 3 anos. Ele chorava e gritava: "papai!". Eu o olhei, senti pena, dei uns dois passos e percebi que não havia homem nenhum atrás dele. Olhei para a outra esquina e lá estava um homem, que poderia ou não ser o seu pai. Provavelmente o era, pois o garoto estava começando a atravessar a rua para ir de encontro com tal homem. Nesse milésimo de segundo, eu senti que o garotinho seria atropelado e o tal homem gritou. Em outro milésimo de segundo, apareceu uma mulher correndo que segurou o garotinho, e o carro que ia passar deu uma freada brusca. Nesse instante eu já tinha voltado meus dois passos, estarrecida, olhando para o rosto de horror da mulher e do homem, e o garotinho a chamar "papai!" sem parar.
Eu poderia ter permitido a morte do menino, caso não chegasse a tempo e não houvesse uma mulher. Isso me consome. Eu deveria ter entendido a situação no momento em que o vi. Devia tê-lo parado. Como lidaria eu agora com uma morte nas mãos? Um japinha tão fofo...e perigoso para a minha consciência.
Fiquei a escutar um "papai" desesperado à medida que subia a rua.
domingo, 16 de agosto de 2009
Liberdade?..a mim?
Postado por Luana Harumi às 13:33
Marcadores: minha introspecção
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2 comentários:
Por um lado é melhor que você tenha se sentido mal, ao menos lhe resta uma consciência pra doer. Raridade.
nunca passei por uma situaçao desse nivel, mas ja em coisas moderadas..aquela hora em que "alguem" tem q fazer alguma coisa, mas a gente simplesmente não se move..não por falta de compaixão, mas simplesmente..por não se mover. Estranho..
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