segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Dias Brancos

Conto que não consegui terminar, então me dou por satisfeita em pensar que ele é o seu próprio fim.



Frias são as tardes de novembro onde me encontro no momento. Não posso me dar o direito de contar-te qual lugar é esse, contente-se, pois, em imaginar flocos de neve a descer do céu, e pessoas com seus cachecóis feito cobras.
Em tardes como esta me delicio apenas com o propósito de me deliciar. Institui que tardes frias me consolam. E talvez me consolem mesmo. Vou-me para a cozinha fazer um chá, penso em comer um brownie, alegro o som colocando para tocar uma bossa. Quando nada mais tenho a fazer senão olhar pela janela, passo-me para a cadeira próxima de tal, inclino-me um pouco, e lá está a rua branca.
Branca..hoje está branca e com um velho empregando o pouco de juventude que lhe sobra na subida das escadas congeladas. Parece uns 70 anos e que vai escorregar. Parece e escorrega. Escorrega e...pois lhe chega uma garota, parecida 15 anos, e lhe ajuda a levantar.
“Senhor, cuidado!”
O velho olha, faz um “como não?”, e faz intenção de que ela o solte para que possa atingir sua meta: a porta. Creio que ela tenha entendido, pois desceu uns degraus e ficou observando o pobre velho subir. Subido ele, ela se vai, sem olhares trocados.
Contado isso, nem sei o porquê de ter começado a contar. Ah! Esse tédio me consome! Tédio de quem leu demais, ouviu demais, viu demais, já passou demais do tempo. Vou-me para o brownie.

***

Amanheceu e a brancura da rua está com mais camadas. Sorte minha não ter um carro e ter alguém que me traga as coisas.

***

Amanheceu e a brancura, minha companheira, ainda está ali a me consolar. E o velho. Ele também. Insiste em ser componente da figura que tenho na janela. Dessa vez não o vejo na rua, e sim em seu apartamento. Provisório, penso. Naquele apartamento mora uma família tradicional de dois pais e dois filhos.
Tenho a impressão de que ele retribui a minha pequena espionagem. Às vezes, embora longes, pode-se sentir olhos queimando enquanto trocam pensamentos. Não tenho a mínima vontade de com ele trocar pensamentos. Velhaco eu, velhaco ele, fiquemos por aqui.

2 comentários:

leandro disse...

É como viver por um mês, o memso dia. Tudo acontece denovo, e parece sempre igual. Não fosse aquela passadela de olhos em um outro velho de nome Heráclito, não perceberia sequer que eu mesmo não sou mais o mesmo, sobrepujado pelo tempo, e quanto mais ele passa, melhor se pode ver a tristeza refinada no fundo da alma.

Péptideo disse...

nao, nao vou comentar poeticamente, nao sei fazer isso.
mas ta muito legal!
e adorei a parte do "parece e escorrega"
asehiaheiosaheaohsaoihesa

ler isso deu vontade de ficar quentinho sentado observando um mundo branco...=/
qdo nevar em bauru, quem sabe...